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Pedagoga e servidora pública personificam campanha “Julho das Pretas” que inspira luta antirracista em Brasilândia

Campanha visa combater o racismo e a desigualdade de gênero através de debates, atividades culturais e a criação de espaços de acolhimento

03/07/2025 às 18h27 Atualizada em 04/07/2025 às 10h16
Por: Diego Oliveira Fonte: Redação Cenário MS
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Marciana Santiago de Oliveira e Luciana Ramos
Marciana Santiago de Oliveira e Luciana Ramos

Em uma iniciativa para celebrar e fortalecer o protagonismo da mulher negra, latina e caribenha, a Prefeitura Municipal de Brasilândia, por meio da Secretaria Municipal da Mulher e da Coordenadoria de Igualdade Racial, deu início à campanha "Julho das Pretas". Com uma programação que se estende até o dia 25 de julho, o projeto visa combater o racismo e a desigualdade de gênero através de debates, atividades culturais e a criação de espaços de acolhimento.

A campanha destaca a interseccionalidade entre gênero, raça e classe social, buscando reescrever narrativas e garantir os direitos da população negra. "Precisamos ocupar espaços, reescrever narrativas e garantir direitos. O 'Julho das Pretas' é um chamado para essa transformação", afirma Cristiane Carvalho, coordenadora do Núcleo de Igualdade Racial.

Vozes que resistem

Abrindo as homenagens da campanha, Marciana Santiago de Oliveira, pedagoga e mestre em História, é celebrada por sua trajetória de luta e resistência. Atuando como educadora nas redes públicas municipal e estadual, Marciana encontrou na sala de aula um espaço para resistir e se reinventar.

Durante sua infância e juventude, enfrentou o racismo velado em apelidos como "cabelo duro" e "cabelo de bombril", que a levaram a tentar alisar os cabelos e a alma para se encaixar em padrões que a rejeitavam. Foi através do conhecimento e da educação que ela ressignificou sua identidade, compreendendo que seu cabelo crespo e sua cor carregam a história e a memória viva de seus ancestrais.

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Marciana Santiago de Oliveira, pedagoga e mestre em História

Para Marciana, "tornar-se preta" em uma sociedade estruturalmente racista é um ato de resistência diária. Sua jornada é inspirada por ícones como Dandara, Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Conceição Evaristo, mulheres que pavimentaram o caminho com coragem e sabedoria.

Transformação de Luciana Ramos

A campanha também lança luz sobre histórias de transformação pessoal, como a da servidora pública Luciana Ramos. Em um depoimento emocionante, ela relata como superou 35 anos de rejeição à própria imagem. Nascida em Três Lagoas e moradora de Brasilândia, Luciana cresceu sentindo-se "invisível", evitando espelhos e escondendo seus traços. "Casada há 20 anos, nem mesmo para meu marido eu mostrava minha verdadeira essência. Prendia o cabelo, evitava cores vivas", conta.

A virada aconteceu há um ano, quando ingressou na Secretaria da Mulher. O ambiente seguro, as palestras sobre identidade negra e o acompanhamento psicológico especializado a levaram a um "click" de autoaceitação. "Num dia comum, me vi no espelho do banheiro e pensei: 'Meus olhos são lindos!'. Foi como se eu me visse pela primeira vez", relembra.

Servidora pública Luciana Ramos

Hoje, Luciana faz questão de empoderar sua filha Tamiris, de 19 anos, incentivando-a a amar e a valorizar seus traços e cabelos cacheados. "Minha filha ri quando falo pra se arrumar, mas sei que ela nunca precisará se esconder como eu precisei", emociona-se. A história completa de Luciana e outras convidadas será compartilhada no evento "Café Preto e Roda do Migrante", na próxima segunda-feira, 7 de julho, às 8h (MS), na Secretaria Municipal da Mulher.

Programação completa do "Julho das Pretas"

  • 04/07 – Ação Julho das Pretas: Intervenções artísticas e distribuição de materiais informativos.

  • 07/07 – Café Preto e Roda do Migrante: Abertura com roda de conversa sobre identidade, resistência, migração e direitos das mulheres negras e latinas, às 8h na Secretaria Municipal da Mulher.

  • 08/07 – Palestra com a professora da UFMS, Silvana Bispo: Das 7h às 8h (MS), na Câmara Municipal, seguida de distribuição de materiais.

  • 09/07 – Entrevista na Rádio Cidade: Discussão sobre políticas públicas e representatividade.

  • 11/07 – Feira das Pretas: Exposição de produtos de empreendedoras negras locais.

  • 25/07 – Festa Julina das Pretas: Encerramento com música, dança e celebração cultural.

25 de julho: um dia de luta e memória

O encerramento da campanha coincide com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola símbolo de resistência, e o Dia Estadual das Mulheres Negras, reforçando o legado histórico de luta contra o racismo e o sexismo.

Denuncie! A campanha reforça a importância da denúncia contra o racismo e a violência de gênero.

  • Racismo e violação de Direitos Humanos: Disque 100 ou procure a Delegacia de Polícia Civil.

  • Violência contra a mulher: Disque 180. Em casos de emergência, ligue para o 190.

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