Em uma iniciativa para celebrar e fortalecer o protagonismo da mulher negra, latina e caribenha, a Prefeitura Municipal de Brasilândia, por meio da Secretaria Municipal da Mulher e da Coordenadoria de Igualdade Racial, deu início à campanha "Julho das Pretas". Com uma programação que se estende até o dia 25 de julho, o projeto visa combater o racismo e a desigualdade de gênero através de debates, atividades culturais e a criação de espaços de acolhimento.
A campanha destaca a interseccionalidade entre gênero, raça e classe social, buscando reescrever narrativas e garantir os direitos da população negra. "Precisamos ocupar espaços, reescrever narrativas e garantir direitos. O 'Julho das Pretas' é um chamado para essa transformação", afirma Cristiane Carvalho, coordenadora do Núcleo de Igualdade Racial.
Abrindo as homenagens da campanha, Marciana Santiago de Oliveira, pedagoga e mestre em História, é celebrada por sua trajetória de luta e resistência. Atuando como educadora nas redes públicas municipal e estadual, Marciana encontrou na sala de aula um espaço para resistir e se reinventar.
Durante sua infância e juventude, enfrentou o racismo velado em apelidos como "cabelo duro" e "cabelo de bombril", que a levaram a tentar alisar os cabelos e a alma para se encaixar em padrões que a rejeitavam. Foi através do conhecimento e da educação que ela ressignificou sua identidade, compreendendo que seu cabelo crespo e sua cor carregam a história e a memória viva de seus ancestrais.
Para Marciana, "tornar-se preta" em uma sociedade estruturalmente racista é um ato de resistência diária. Sua jornada é inspirada por ícones como Dandara, Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Conceição Evaristo, mulheres que pavimentaram o caminho com coragem e sabedoria.
A campanha também lança luz sobre histórias de transformação pessoal, como a da servidora pública Luciana Ramos. Em um depoimento emocionante, ela relata como superou 35 anos de rejeição à própria imagem. Nascida em Três Lagoas e moradora de Brasilândia, Luciana cresceu sentindo-se "invisível", evitando espelhos e escondendo seus traços. "Casada há 20 anos, nem mesmo para meu marido eu mostrava minha verdadeira essência. Prendia o cabelo, evitava cores vivas", conta.
A virada aconteceu há um ano, quando ingressou na Secretaria da Mulher. O ambiente seguro, as palestras sobre identidade negra e o acompanhamento psicológico especializado a levaram a um "click" de autoaceitação. "Num dia comum, me vi no espelho do banheiro e pensei: 'Meus olhos são lindos!'. Foi como se eu me visse pela primeira vez", relembra.
Hoje, Luciana faz questão de empoderar sua filha Tamiris, de 19 anos, incentivando-a a amar e a valorizar seus traços e cabelos cacheados. "Minha filha ri quando falo pra se arrumar, mas sei que ela nunca precisará se esconder como eu precisei", emociona-se. A história completa de Luciana e outras convidadas será compartilhada no evento "Café Preto e Roda do Migrante", na próxima segunda-feira, 7 de julho, às 8h (MS), na Secretaria Municipal da Mulher.
04/07 – Ação Julho das Pretas: Intervenções artísticas e distribuição de materiais informativos.
07/07 – Café Preto e Roda do Migrante: Abertura com roda de conversa sobre identidade, resistência, migração e direitos das mulheres negras e latinas, às 8h na Secretaria Municipal da Mulher.
08/07 – Palestra com a professora da UFMS, Silvana Bispo: Das 7h às 8h (MS), na Câmara Municipal, seguida de distribuição de materiais.
09/07 – Entrevista na Rádio Cidade: Discussão sobre políticas públicas e representatividade.
11/07 – Feira das Pretas: Exposição de produtos de empreendedoras negras locais.
25/07 – Festa Julina das Pretas: Encerramento com música, dança e celebração cultural.
O encerramento da campanha coincide com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola símbolo de resistência, e o Dia Estadual das Mulheres Negras, reforçando o legado histórico de luta contra o racismo e o sexismo.
Denuncie! A campanha reforça a importância da denúncia contra o racismo e a violência de gênero.
Racismo e violação de Direitos Humanos: Disque 100 ou procure a Delegacia de Polícia Civil.
Violência contra a mulher: Disque 180. Em casos de emergência, ligue para o 190.
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