Mapa da fé: o percentual das religiões em Bataguassu e nas cidades da região
Levantamento detalha o predomínio católico na região, mas aponta para o crescimento contínuo do número de evangélicos e ateus
07/06/2025 às 18h30Atualizada em 09/06/2025 às 20h34
Por: Elenize Oliveira Fonte: Redação Cenário MS
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Censo detalha o predomínio católico na região, mas aponta para o crescimento contínuo do número de evangélicos - Foto: Cenário MS
Análise de dados de oito municípios revela uma forte hegemonia cristã, com o catolicismo como crença majoritária e um crescimento evangélico expressivo.
Um levantamento sobre o perfil religioso em oito cidades do leste de Mato Grosso do Sul — Bataguassu, Anaurilândia, Santa Rita do Pardo, Nova Andradina, Batayporã, Brasilândia, Três Lagoas e Taquarussu — demonstra uma paisagem social profundamente marcada pela fé cristã.
Em todas elas, a soma de católicos e evangélicos ultrapassa 85% da população, um fator que molda a cultura local.
De acordo com os dados, o Catolicismo Apostólico Romano se mantém como a religião predominante na maioria dos municípios.
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Taquarussu e Anaurilândia apresentam os maiores percentuais, com 76,26% e 74,15% de seus habitantes declarando-se católicos, respectivamente. Taquarussu se destaca com o maior percentual católico do Mato Grosso do Sul.
Por outro lado, Três Lagoas, a cidade mais populosa da amostra com 112.209 habitantes, registra o menor índice de católicos (47,23%), sendo a única onde eles não representam a maioria absoluta da população.
O segmento evangélico, por sua vez, demonstra uma presença consolidada e crescente.
Brasilândia se destaca com o maior percentual de evangélicos (38,23%), seguida de perto por Três Lagoas (35,94%).
Em Santa Rita do Pardo, quase um terço da população (31,89%) se identifica com as vertentes evangélicas, evidenciando sua força em municípios de diferentes portes.
Enquanto isso, a parcela da população que se declara "sem religião" apresenta variações significativas, indicando diferentes níveis de secularização.
Três Lagoas (9,06%), Bataguassu (7,78%) e Brasilândia (7,76%) possuem os maiores contingentes de não religiosos, contrastando fortemente com Taquarussu, onde apenas 1,67% dos moradores se enquadram nesta categoria.
Em todas as cidades, o percentual de pessoas que disseram não saber qual religião seguir, é de zero.
Bataguassu
Católica Apostólica Romana (%): 59,27
Evangélicas (%): 30,93
Espírita (%): 0,48
Outras religiosidades (%): 1,32
Sem religião (%): 7,78
Umbanda e Candomblé (%): 0,22
Anaurilândia
Católica Apostólica Romana (%): 74,15
Evangélicas (%): 21,26
Espírita (%): 0,44
Outras religiosidades (%): 0,97
Sem religião (%): 3,18
Umbanda e Candomblé (%): 0
Santa Rita do Pardo
Católica Apostólica Romana (%): 62,36
Evangélicas (%): 31,89
Espírita (%): 0,2
Outras religiosidades (%): 1,5
Sem religião (%): 4
Umbanda e Candomblé (%): 0,05
Em Brasilândia, católicos são 51,9% e evangélicos são 38,23% - Foto: Elenize Oliveira/Cenário MS
Brasilândia
Católica Apostólica Romana (%): 51,9
Evangélicas (%): 38,23
Espírita (%): 0,15
Outras religiosidades (%): 1,96
Sem religião (%): 7,76
Umbanda e Candomblé (%): 0
Três Lagoas
Católica Apostólica Romana (%): 47,23
Evangélicas (%): 35,94
Espírita (%): 2,35
Outras religiosidades (%): 4,59
Sem religião (%): 9,06
Umbanda e Candomblé (%): 0,72
Em Batayporã, católicos são 65,86% e evangélicos são 28,84% - Foto: Elenize Oliveira/Cenário MS
Batayporã
Católica Apostólica Romana (%): 65,86
Evangélicas (%): 28,84
Espírita (%): 0,44
Outras religiosidades (%): 2,21
Sem religião (%): 2,48
Umbanda e Candomblé (%): 0,16
Taquarussu
Católica Apostólica Romana (%): 76,26
Evangélicas (%): 21,25
Espírita (%): 0
Outras religiosidades (%): 0,73
Sem religião (%): 1,67
Umbanda e Candomblé (%): 0,09
Nova Andradina
Católica Apostólica Romana (%): 62,77
Evangélicas (%): 28,92
Espírita (%): 0,67
Outras religiosidades (%): 2,38
Sem religião (%): 5,18
Umbanda e Candomblé (%): 0,08
Os números das religiões no Estado
Os dados pertencem ao Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira,dia 6 de junho.
De acordo com o levantamento, no contexto geral, a população sul-mato-grossense é composta por51,6% de católicos, o que representa uma queda em relação ao Censo de 2010, quando este grupo somava 60,2%.
Em contrapartida, o número de evangélicos cresceu, alcançando32% da população do estado. Em números absolutos, são 763.096 pessoas que se declaram seguidoras de denominações evangélicas.
A fé na Esfera Pública
A influência dessa configuração demográfica transcende a vida privada e se manifesta de forma explícita no poder público local.
Em Santa Rita do Pardo, católicos são 62,36% e evangélicos são 31,89% - Foto: Elenize Oliveira/Cenário MS
Em Santa Rita do Pardo, onde católicos (62,36%) e evangélicos (31,89%) somam mais de 94% da população, a Câmara Municipal reflete essa realidade. No plenário, um crucifixo e uma Bíblia são mantidos em exposição, e todas as sessões legislativas são iniciadas com a leitura de uma passagem bíblica e uma oração de cunho cristão.
Não há menções ou rituais de outras crenças durante os trabalhos da casa.
Um exemplo concreto dessa rotina ocorreu na sessão do dia 26 de maio. A reunião, com duração de aproximadamente 40 minutos, foi dedicada a ritos protocolares. Após a execução do Hino Nacional, seguiu-se a leitura de um trecho da Bíblia e a oração do "Pai Nosso". A pauta do dia se concentrou na leitura da ata da sessão anterior, e a reunião foi encerrada sem a apresentação de novas proposituras ou a votação de projetos legislativos. A maior parte da "reunião" do legislativo foi dedicada aos ritos religiosos cristãos da casa e depois todos foram dispensados.
Em Anaurilândia, católicos são 74,15% e evangélicos são 21,26% - Foto: Elenize Oliveira/Cenário MS
O padrão se repete em Anaurilândia, município com a segunda maior proporção de católicos da região. A Câmara local também adota a prática de realizar orações cristãs antes de dar início às sessões plenárias.
Essas práticas, embora comuns, inserem-se em um debate nacional sobre a laicidade do Estado. O Supremo Tribunal Federal (STF) já se posicionou sobre o tema, entendendo que a manutenção de símbolos religiosos em espaços públicos, por si só, não impõe uma crença específica nem fere a imparcialidade dos atos administrativos, refletindo a formação histórica e cultural do Brasil.
Em decisão relacionada, o ministro Alexandre de Moraes considerou constitucional a invocação do nome de Deus na abertura de sessões legislativas, desde que tal ato não seja imposto de forma obrigatória. Para o ministro, essas manifestações, quando não impositivas, coexistem com o princípio do Estado laico.
Dessa forma, a forte presença da fé cristã no leste sul-mato-grossense não apenas define o perfil demográfico, mas também pauta práticas e símbolos dentro de instituições públicas, levantando um debate contínuo sobre os limites entre a expressão cultural majoritária e a garantia de neutralidade do Estado perante todas as religiões e também àqueles que não professam nenhuma fé.
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